Veja o vídeo - Abílio Júnior é acusado de racismo religioso em publicação nas redes
O deputado federal diplomado Abílio Júnior (PL) está sendo acusado de cometer racismo religioso por postar um vídeo em que aparece um ritual de candomblé no Palácio do Planalto. Na postagem, Abílio questiona o discurso de que religião e política não se mistura e diz que o governo eleito não quer a religião cristã.
Para o Pai Bosco, integrante da Rede Nacional de Religiões Afro-brasileira e Saúde em Mato Grosso (Renafro-MT), o parlamentar cometeu racismo religioso, já que faz uma crítica indireta a religião de matriz africana. ‘E ele faz o seu comentário falando na laicidade do estado, mas parece condenar o evento que ocorreu no Planalto, como se aquilo fosse errado. E o pior, ele convida os seus eleitores e seguidores a comentar sobre o assunto, como se quisesse provocar um linchamento do evento’, diz Bosco.
‘Seria estranho se o presidente Lula retirasse dos órgãos federais todas as imagens cristãs, se ele não recebesse nenhum membro de outras religiões. Aí sim seria intolerância religiosa’, explica.
Pai Bosco explica que ao criticar as religiões de matrizes africanas, Abílio Júnior atacou a cultura da população negra. ‘Por isso é racismo. Ele atacou os costumes de uma etnia, do povo negro. Talvez seja um dos preconceitos mais graves que ele já cometeu’, completou.
Para o coordenador de juventude da Renafro-MT, Vinicíus Brasilino, as declarações do parlamentar foram preconceituosas, já que passa a ideia de que apenas as religiões cristãs são as religiões corretas ou as que tenha aceitação na sociedade.
‘O Lula levou a imagem do cristo para o Planalto, que representa a religião, mas levou e recebeu as religiões de matrizes africanas, levou os indígenas e suas religiões. Ou seja, ele levou toda a representatividade religiosa do nosso país’.
‘Isso que o Abílio faz é preconceituoso, é racismo religioso porque ele critica apenas as religiões de matriz africana. Você não vê ele criticando outras religiões’, finaliza Brasilino.
Após a postagem, Abílio Júnior apagou o vídeo afirmando que não daria ‘corda para comentários ofensivos e preconceituosos’. ‘A nossa intenção é fazer uma reflexão e dizer que política e religião se discute. E o bom seria se fosse transparente e cada um mostrar o que é’, disse.
Analista aponta preconceito cultural
Para o analista político, professor João Edisom, a postagem que o deputado fez criticando o ritual de candomblé no Planalto faz parte da cultura de preconceito que população herdou da Europa.
Segundo ele, as manifestações religiosas africanas e dos povos originários, sempre sofreram preconceitos ao longo dos séculos na Europa e depois se difundiu para outros continentes.
‘Infelizmente isso é cultural. A população, principalmente a elite não gosta das religiões de matrizes africanas ou indígenas. Você não vê ninguém criticando judeu, budista ou o islâmico. Mas se for da Umbanda ou Candomblé, sempre ouvimos comentários pejorativos’, explica o analista político.
Segundo ele, a crítica do parlamentar traz todo preconceito cultural contra um povo e uma classe social, já que normalmente as religiões africanas são seguidas por classes sociais que não dominam o poder financeiro do país.
João Edisom ainda diz que as declarações de Abílio são graves, já que como parlamentar eleito em um Estado com muitos povos originários - índios e quilombolas, ele deveria compreender a diversidade e o respeito.
‘E racismo religioso, intolerância religiosa é crime no Brasil. E ele não pode dizer que não sabe. Ele é representante de um Estado, de um Poder, e portanto, deve cumprir a constituição. E na nossa Constituição isso é crime’, finaliza.
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FOTO CAMARA