O não como instrumento de mudança
É sabido pela maioria que dizer não a uma criança, quando coerente e necessário, pode ser um estímulo para o crescimento dela, para ver que o mundo não gira ao próprio redor, e ajuda a evitar complicações sérias na infância. O que a maioria talvez não tenha racionalizado é que o não pode ser um importante elemento na vida dos adultos também.
Para se ter uma ideia da complexidade disso, algumas pesquisas apontam que profissionais nascidos na década de 1980 até meados de 1990, apesar de serem mais qualificados para o mercado de trabalho, são mais frustrados por sua dificuldade em lidar com o não. Eles reagem mal ao passarem por situações incômodas e são mais intolerantes quando suas sugestões são descartadas. Mas o "poder do não" pode ir além e ter reflexos maiores.
Perceba que em muitos momentos da vida é fator fundamental dizermos não para nós mesmos. Por exemplo, para manter o foco nas nossas atividades, precisamos negar todos os outros estímulos que chamam a nossa atenção (celular, conversa paralela, outro projeto). Ou seja, a concentração em uma única coisa depende basicamente de dizer não a todas as outras. Steve Jobs dizia que "foco significa dizer não a centenas de boas ideias" para que, consequentemente, alguma sobressaia. Quanto mais focamos em algo, mais excelência teremos ao final.
Ao contrário de sermos negativos, nestes casos, o não entra como elemento de crescimento pessoal e mudança, de aceitarmos que não podemos "abraçar o mundo". Costumamos pensar que ser multitarefa é sinônimo de extrema inteligência. Mas não são todos que têm talento para ser uma pessoa multitarefa, com satisfação em tudo que faz.
Pode ser interessante, pelo menos para a maioria, buscar ser multitarefa nas atividades cotidianas e domésticas, como preparar uma refeição, assistir televisão e lavar a louça, tudo ao mesmo tempo, por exemplo. No entanto, em grandes projetos, esse formato de trabalho pode atrapalhar a eficiência. Por outro lado, o não coerente pode ajudar a priorizar e entregar uma tarefa grande, que parecia impossível.
É importante lembrar que para todas as fases da vida sentiremos dificuldade em lidar com o não. Pais e professores morrem de medo de dizer não às crianças. Cônjuges têm medo de dizer não entre si e frustrar-se. Chefes evitam dizer não aos empregados, e vice versa. Noras que temem magoar sogras, e assim por diante. Algumas vezes, somos reféns de nós mesmos e não conseguimos dizer não aos nossos próprios desejos.
Por isso o não como instrumento de mudança é fundamental. O ideal é que trabalhemos em nós mesmos a necessidade de dizer bons, justos e firmes nãos.
* Elen Lisboa Rodrigues Bellandi é coach pela Erickson College e pela Integrated Coaching Institute (ICI), ambas credenciadas pela International Coaching Federation (ICF). Possui formação em Coaching Express pela Condor Blanco, credenciada a Associação Internacional de Coaches Profissionais. Cursou com os professores de Harvard Robert Kegan e Lisa Laskow Lahey, na infraestrutura da Universidade, formação em Imunidade à Mudança individual e em times e equipes pela empresa Minds at Work.
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