Coronavírus: Brasil a bola da vez
Há mses, desde praticamente meados de março, quando a pandemia do coronavirus ainda não causava medo, pânico, sofrimento e mortes no Brasil, o então ministro da Saúde, Mandeta; diversas pessoas, inúmeros médicos, epidemiologistas, infectologistas, virologistas, cientistas, enfim, a comunidades médica e gestores em saúde pública ja vinham alertando que, como não existe tratamento, nem remédio disponivel e muito menos vacina para prevenir, combater e tratar os casos da doença, a única alternativa ou estratégia seria o ISOLAMENTO SOCIAL, o distanciamento social, ou seja, que as pessoas evitassem circular, de sairem de casa, desnecessariamente, e que as atividades econômicas, não essenciais, deveriam ser suspensas temporariamente, a fim de reduzir as aglomerações tanto no ambiente de trabalho, nas escolas, academias, igrejas e outros espaços quanto no transporte coletivo, que aumentam o contágio e um maior número de casos de pessoas infectadas e de mortes, afinal, este virus, o coronavirus tem uma letalidade muito grande, afetando principalmente, mas não exclusivamente, pessoas e grupos de risco, como idosos, pessoas com imuno deficiência ou outras doenças, como cardio-vasculares, respiratórias, diabetes, tabagismo e obesidade e outras que provocam baixa imunidade.
Seguindo seu ídolo que é o Presidente dos EUA, Trump; o Presidente Bolsonaro não apenas tentou ridicularizar quem propugnava pelo isolamento social, como chegou a minimizar o tamanho da pandemia e as suas consequências, dizendo, mais de uma vez, que esta seria mais “uma gripezinha”, um “resfriadinho” e que tudo não passava de atitudes irresponsáveis e criminosas de governadores e prefeitos que pretendiam, isto sim, prejudicar a economia e seu governo que estava decolando.
Passados praticamente menos de dois meses, o Brasil já contabiliza mais de 92 mil pessoas infectadas e dentro de mais uma semana devera ultrapassar, talvez, mais de 130 mil casos registrados oficialmente ; as funerárias e cemintériios já entraram em colapso, bem como os hospitais e outras unidades de saúde, criando uma verdadeira FILA DA MORTE, onde e quando profissionais de saúde precisam definir e decidir quem vai morrer e quem tem possibilitar de ser salvo. Neste caso, as maiores vitimas serão as pessoas idosas, apesar de constar da Lei que pessoas idosas tem preferencia em tudo, inclusive no atendimento `a saúde.
A FILA DA MORTE já é uma realidade em, praticamente, todas as unidades de saúde publica, principalmente em São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza e Manaus, dentre outras cidades, onde os hospitais não tem mais leitos comuns e muito menos leitos de UTI e respiradores nem se fala. Esta é uma crise que já estava instalada no SUS há alguns anos, basta revermos jornais e outras reportagens que mostravam filas de pacientes amontoados nos corredores, mulheres morrendo nas filas de matrernidade, pacientes com câncer ou renais e outras doencas cronicas e degenerativs, sem possibilidade de serem tratadas, a explosão dos casos de dengue, zica e chicungunha; a hanseniese, a malária, as doencas respiratórias, as doenças cardíacas e outras mais, levando `a morte milhões de pessoas todos os anos; afinal, mais de 170 milhões de brasileiros de todas as idades tem o SUS como única e exclusiva alternativa para tratarem de suas doença se o SUS está praticamente falido há anos, o que não deixa de ser uma vergonha e um desrespeito ao princípio constitucional (que na verdade é letra morta) de que “saúde é direito de todos e dever do Estado” (poderes públicos em todos os niveis e não estado enquanto unidade federativa). Não é favor nenhum quando governantes destinam recursos para que a saúde publica seja universal, humanizada e de qualidade, é um imperative constitucional e legal que a grande maioria dos governantes simplesmente não cumprem e a impunidade permanece ante o olhar complacente dos órgãos de controle, como MP federal e estaduais e demais como tribunais de contas da União e dos Estados.
O CORONAVIRUS veio apenas, no mundo todo, mas principalmente no Brasil, desnudar uma realidade triste e cruel que é a precarização dos servicos de saúde pública, bem como outros serviços públicos essenciais, isto, devido `a mercantilização da saúde, da educação, da água, do saneamento básico, da seguranca pública e de tantos outros serviços públicos, situação esta agravada muitissimo mais desde a aprovação do CONGELAMENTO DO TETO DOS GASTOS, que, conforme todos sabemos penalize de forma cruel as camadas mais humildes e excluidos, que, realmente, são clients dos servicos publicos, já que os donos do poder, a classe media e os marajás da república dispoem de recursos para terem servicos de saude de qualidade, iguais aos do primeiro mundo.
Ora há mais de quatro ou cinco décadas a saúde pública é subfinanciada no Brasil, os recursos orçamentários tem sido reduzidos desproporcionalmente em relação a outros gastos do governo federal, estaduais e municipais, como renúncia fiscal, subsidios a diversas setores econômicos, gastos com amortização e rolagem da divida pública e também com o aumento da corrupção e da sonegação consentida pelo fisco, que acabam beneficiando grandes empresas e grupos que pertencem `as elites do poder.
É neste quadro de caos na saúde publica e em meio ao avanço das forças de direita que advogam o liberalismo como modelo e pano de fundo das ações de governo, que pregam um Estado minimo, uma preocupação excessiva com o equilibrio fiscal, que na prática contribuem para a hegemonia de determinados setores, aumento do enriquecimento e acúmulo de capital em poucas mão e na proliferação de grandes massas excluidas, aumento da pobreza, da miséria e da marginalização social, econômica e politica.
No mundo todo os Estados nacionais perceberam que nos momentos de crises globais é fundamental que o governo exerça seu papel de equalizador social, de anteparo para que os pobres não se tornam miseráveis e estes (miseráveis) não acabem morrendo de fome ou de tantas outras doençs.
No entando, mesmo em meio a toda esta crise, nossos governantes, principalmente o Governo Federal, tentam desesperadamente procurar um bode expiatório, um culpado, seja pela origem da doença ou pelo avanço da mesma e da morte de um número crescente de pessoas.
Reportagem recente, de 29 de abril último, há 3 ou 4 dias, revela que estudo feito na Inglaterra quanto ao avanço e contágio nos diferentes países, o Brasil, ao lado dos EUA são os dois países em que uma pessoa infectada e transmite o coronavirus para mais 3 ou 4 pessoas, enquanto na Europa, mesmo em periodo agudo da pandemia, era no máximo um ou 0,8 contágios por pessoa infectada.
Mesma assim, ficou demonstrado que o avanço da pandemia na Europa e nos EUA e também o que esta acontecendo no Brasil, foi uma decorrência dos sinais trocados, como se diz, por parte dos governantes, que no inicio da pandemia minimizavam o problema, como aqui fez o Bolsonaro e nos EUA o Trump. Resultado, a velocidade das infecções foi muito maior do que a capacidade de atendimento dos sistemas públicos e privados de saúde.
Tanto na Europa quanto nos EUA, em um dado momento os governantes constataram que suas orientações , suas ações e omissões estavam dando errado e que seus países iriam sofrer e presenciar grandes catástrofes, não apenas econômicas e financeiras, mas fundamentalmente humanas. Foi o que acabou acontecendo e os números ai estão para comprovar esta triste realidade, que no Brasil está piorando a olhos vistos.
Este fato decorre do nível e tipo de isolamento que o país esteja adotando, tanto em termos de orientações e determinações dos governantes quanto da aceitação e cumprimento dessas condições por parte da população.
O ex-ministro Mandeta, que também, diga-se de passagem, nunca foi um defensor intransigente do SUS, quando era deputado federal; enquanto esteve `a frente do ministerio da saúde sempre alertou quando a importância do isolamento socia, justiça lhe seja feita, no que era desautorizado e combatido pelo Presidente Bolsonaro, chegando a dizer publicamente que a população ficava confusa, como continua confusa, diante de duas alternativas totalmente contraditórias, a de Bolsonaro que advoga a abertura da economia e o isolamento vertical, ou seja, apenas para idosos e de pessoas que pertencem aos chamados grupos de risco, já mencionados anteriormente neste arigo; e a orientação do ex ministro, de governadores, prefeitos que seguem as recomendações da OMS – Organização Mundial da Saúde, das comunidades médica e cientistas.
Além desta questão do isolamento social/distanciamento social , que em alguns lugares, estados e municipios não esta sendo cumprida por parte da população, apesar do crescimento assustador do número de casos e de mortes pelo coronavirus, para o que está acontecendo com unidades de saúde, falta de leitos hospitalares em geral, leitos de UTI, respiradores, falta de pessoal na área de saúde, tanto pela precariedade já existente no SUS antes do coronavirus e agora, mais agravada ainda com a contaminação, afastamento e morte de médicos, pessoal de enfermagem e demais profissionais da saúde.
Mas existem também mais dois problemas que colocam uma sombra sobre a verdadeira natureza e extensão do coronavirus no Brasil, o primeiro é a falta de testes, ou seja, praticamente só estão sendo testados as pessoas que comprovadamente já estão infectadas e acabam procurando atendimento e tratamento nas unidades de saúde.
Na verdade, como disse recentemente o atual ministro da saúde, não existe uma integração entre as ações dos governos federal, estaduais e municipais e também em relação `as ações do Sistema privado de saúde, resultando em uma grande desinformação quanto ao número de testes realizados ou em realização, apenas metas futuras, ora de 23 milhoes de testes e agora nova meta de 46 milhões até setembro próximo, mas até la, milhares de pessoas ja estarão contaminadas ou mortas.
Os números de testes realizados, nesta confusão de informações e também de noticias falsas/”fake news”, variam de 42 mil a 90 mil ou até 390 mil testes já foram realizados, mas tudo não tem passado de especulação e meias verdades.
Há poucas semanas algumas reportagens mencionavam que o Brasil, considerando o tamanho da população, era e creio eu que continua sendo, um dos paises que menos testes realizam em relação ao tamanho da população. Em certo momento o Brasil testava menos do que o Chile que tem uma população muito diminuta quando comparado com o nosso país.
A consequência desta lacuna é o desconhecimento total do tamanho e da localização da doença/coronavirus. Ora, se nem esta informação básica, ou seja, o número de pessoas, milhares ou milhões assintomáticas, que ja foram infectadas e ou que estão com o coronavirus, tornam as ações dos governantes totalmente erráticas, improvisadas e isto favorece a disseminação da doença e tambem limitam as providências para o seu combate e tratamento.
Resumindo, a incompetência, a incúria, a falta de profissionalismo nesta, com em todas as demais áreas de atuação de entidades públicas, acarretam baixa eficiência, baixa eficácia e baixa efetividade na gestao pública e, ao mesmo tempo, o desperdício de recursos econômicos, financeiros, humanos e tecnológicos e, inclusive, oferece oportunidades para falsificações, engodo, crimes, corrupção e tráfico de influência, tudo o que não contribui para o enfrentamento do problema.
O outro problema é a subnotificação, tanto em relaço aos números de casos quanto os de mortes. As inferências estatísticas, tendo em vista alguns indicadores, como por exemplo, número de pessoas internadas, curadas ou mortas com SRAG (sindrome respiratória aguda grave) quando comparados no mesmo periodo, meses ou dois ou mais meses, como, por exemplo, nos meses de fevereiro, março e abril de 2019 ou 2018 com o mesmo periodo de 2020, demonstram que houve um aumento exponencial, daí a inferência/dedução de que a única coisa diferente que apareceu em 2020 em relação aos dois anos anteriores foi o coronavirus, é possivel concluir que a subnotificação pode ser muito grande, talvez os numeros registrados oficialmente de casos de internação e de morte por sindrome aguda respiratória ou de pneumonia em 2020 seja de apenas 10% do número real ou talvez até menos, 7% ou 8%.
Conforme matéria jornalística recente (G1,30/04/2020), citando como fonte a FIOCRUZ, “O Brasil já acumula neste ano mais de 5,5 mil mortes causadas por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), número que é maior que a média registrada entre 2010 e 2019, de acordo com dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). São exatas 5.580 mortes por SRAG registradas até o dia 25, quando o Brasil contabilizava 4.016 mortes por Covid-19. A média entre os anos de 2010 e 2019 é de 2.019 mortes por SRAG
Isto significa que podemos concluir que ao invés de 92,2 mil casos de coronavirus registrados a realidade seria de 10 ou talvez até 13 vezes maior, ou seja , o Brasil poderia ter entre 922 mil casos até 1,2 milhão de casos; e em relacao `a mortes o numero poderia variar ao invés dos 6,4 mil registrados até ontem, mas variar entre 64,1 mil e 83,2 mil mortes por coronavirus.
Grupo de estudos da USP tambem chegou a numeros aterradores, conforme matéria do site Brasil 247, de 30/04/2020, quando afirma que “com sobnotificação, o total de casos de infecção pelo novo coronavirus no Brasil poderia superar 1,2 milhão. Este número já seria maior do que os casos reconhecidos oficialmente nos EUA”, onde o numero de pessoas testadas até ontem (01/05/2020) é de 6,55 milhões.
Esses números estão bem próximos de um estudo realizado ha menos de dois meses pelo Imperial College de Londres, em que constroi um cenário nada animador sobre as projeções do avanço do coronavirus no Brasil.
Juntando este estudo daquele instituição com outro estudo bem recente, de poucos dias, em que é dito que no Brasil cada pessoa infectada por coronavirus pode contaminar mais 3 pessoas, podemos imaginar o quadro aterrador que está diante de nossos olhos e, mesmo assim, governantes e boa parte da população ainda continua acreditando que, como Bolsonaro, o coronavirus é apenas uma gripezinha ou um resfriadinho. Como consequencia diversas municipios e estados estao retornando `a plenitude de todas as atividades, o que podera provocar uma nova onde de infecções e mortes.
Pessoas estão relaxando e deixando o isolamento social, o distanciamento social, promovendo encontros, festas, saindo `as ruas e lugares onde existem aglomerações sem máscaras, com a idéia de que tudo isto é algo de menor gravidade.
O número de casos e circunstâncias em que o coronavirus tem se espalhado pelo Brasil, seja quanto ao número de casos ou de mortes, revelam muita angustia, sofrimento, dor e um verdadeiro pesadelo para as familias dessas vitimas, muitas das quais tambem contrairam a doença por dever de ofício, como são os profissionais de saúde já infectados ou mortos, por discuido ou por não acreditar que estamos diante de uma pandemia de sérias consequências.
Por megligência e falta de articulação entre os diferentes niveis de governo e um certo ceticismo por parte da população, tanto os EUA quanto a Europae, agora, no Brasil, estão pagando um preco muito alto, seja em número de pessoas infectadas ou de mortes.
Nos EUA até hoje, 02 de maio, já são 1,1 milhão de pessoas infectadas e mais de 64 mil mortes, em apenas dois meses, bem mais do que as perdas americanas durante dez anos de Guerra do Vietnan (58 mil militares e civis mortos) e na Europa 1,4 milhão de pessoas infectadas e mais de 150 mil mortos, além dos impactos nas respectivas economias.
Enquanto isto, somos obrigados a também vivermos em meio a uma crise politica, motivada por ambições dos donos do poder que se digladiam para ver quem tem mais força e consegue derrotar, não o coronavirus, que se costuma dizer é o nosso maior inimigo, invisível, mas a vaidade politica, o apego ao poder, o descaso em relação ao sofrimento e dor da população, que as vezes sofre calada e prisioneira das meias verdades e das fake news. Enquanto o coronavirus avanca e mata ontem, hoje, amanha, nossos politicos com ambição desmedida pelo poder, já se digladiam pelas eleicoes gerais que só irao ocorrer em 2022. É muito cinismo e falta de sensibilidade e de respeito pela dor e sofrimento de um país inteiro.
É triste e desolador termos que viver em um país cujos governantes não tenham responsabilkidade social, que lhes falte o espirito verdadeiramente humano, onde a solidariedade e o compromisso com o bem comum fica muito longe de seus discursos, entrevistas e ações ou omissos do dia-a-dia!
Por tudo isso e o que alguns cenários indicam, dentro de algumas semanas ou meses o Brasil será, com certeza, a “bola da vez” e aí, Talvez, vamos acordar, mas a realidade para quem sucumbiu nesta onda e suas familias jamais será mesma. A nossa resposta não pode ser uma insensibilidade coletiva e não poderemos simplesmente dizer, como fez Bolsonaro recentemente com aquele: “E dai?”.
JUACY DA SILVA, professor universitario, fundador, titular, aposentado UFMT, sociologo, mestre em sociologia, colaborador de alguns veiculos de comunicacao. Email profjuacy@yahoo.com.br Twitter@profjuacy




