71% dos líderes empresariais estão pessimistas com cena política em 2022
Pesquisa da BTA feita com exclusividade para a Folha entre os dias 1º e 10 de dezembro com 277 líderes, entre presidentes de empresas, vice-presidentes, diretores e membros do conselho de administração, aponta um aumento consistente da percepção deles acerca dos problemas sociais do país ao longo de 2021, a partir do agravamento da pandemia.
Segundo o levantamento, 79% percebem um aumento do conjunto de problemas sociais existente no Brasil —um país onde uma parte significativa da população passa fome e busca ossos para sentir algum gosto de carne, enquanto alguns poucos disputam jatinhos particulares para as viagens de férias, com fretamentos para o Caribe ao custo de R$ 900 mil.
Por consequência, o engajamento com questões sociais aumentou em 2021 para 49% dos entrevistados, um avanço que foi ainda maior entre os conselheiros de empresas (65%) e os presidentes (57%).
O engajamento, por sua vez, trouxe a reboque a preocupação com as eleições de 2022: 71% estão pessimistas com a cena política brasileira. O mesmo sentimento de desesperança envolve 48% dos executivos quando o assunto é a economia do país. Um percentual ainda maior (73%) está pessimista com a manutenção da desigualdade social em 2022.
"Espero que a gente vote em alguém que desperte a esperança. Em 2018, o brasileiro votou com base na exclusão, não por crença", diz Fábio Barbosa, diretor-presidente da Fundação Itaú, sócio da Gávea Investimentos e membro do conselho da Ambev, da Natura e da Fundação das Nações Unidas. Ele afirma ainda não ter candidato.
"Em 2022, me preocupam a inflação elevada, a volatilidade nos mercados provocada pelas eleições, e o receio de uma nova onda da Covid-19", diz.
Para Barbosa, é preciso acreditar em um amanhã melhor do que o agora. "Precisamos de alguém para reunir o povo em torno de um lema positivo, como o Barack Obama fez nos Estados Unidos com o ‘Yes, we can’ [sim, nós podemos]. A vida fica muito difícil sem esperança", diz ele, referindo-se ao ex-presidente americano e ao seu lema nas eleições de 2008.
"Eu quero mudança, não quero o que está aí", afirma Fernando Bertolucci, 56, diretor de pesquisa e desenvolvimento da Suzano, referindo-se às eleições de 2022. Para o executivo, que também diz ainda não ter candidato, é preciso que as empresas sejam mais atuantes, "mais vocais", na construção de uma realidade melhor para o país.
"Há menos espaço para novos heróis e mais para a colaboração ativa entre as empresas e a sociedade civil", diz ele.
A desesperança com a política a curto prazo é maior do que com a economia. A pesquisa questionou os executivos a respeito das expectativas para o Brasil em 2023, ou seja, passadas as eleições. Do total da amostra, 47% se disseram pessimistas com o cenário político brasileiro em dois anos, enquanto 43% afirmaram estar otimistas com a economia brasileira no período.
Se o cenário político não empolga, os líderes empresariais se sentem muito mais confiantes quando o assunto é a capacidade do Brasil em controlar a pandemia —69% se disseram otimistas nesse sentido em 2022, enquanto essa é a expectativa de 73% para 2023.
"Teremos pela frente mais um ano desafiador, não especialmente desafiador. A nossa maior vantagem é ter a imensa maioria da população vacinada", diz Paulo Kakinoff, 47, presidente da Gol Linhas Aéreas.
"Não estou dizendo que a pandemia acabou, nem que o processo [de vacinação] não teve erros —ele poderia ter sido mais célere. Mas, em comparação a 2021, estamos mais bem preparados, mesmo com o recente avanço da ômicron", afirma o executivo, destacando o protagonismo empresarial em torno da vacinação, como o Unidos pela Vacina, lançado pela empresária Luíza Helena Trajano, presidente do conselho de administração do Magazine Luiza.
O movimento, que se apresenta como apartidário e sem interesses comerciais, reuniu empresas e profissionais liberais para criar frentes de atuação em todos os estados do país e no Distrito Federal, a fim de desobstruir gargalos no processo de vacinação. Kakinoff foi um dos que participaram da iniciativa.
"Nesse sentido, tenho uma visão benigna de 2022 e meu sentimento é de gratidão. Conseguimos mobilizar milhões de pessoas e fortalecer o SUS [Sistema Único de Saúde]", afirma o presidente da Gol. "Mas as preocupações macroeconômicas, claro, são grandes."
Em contrapartida, no que tange aos negócios, as expectativas são positivas. "Tudo o que tenha a ver com a própria capacidade empresarial de enfrentar os desafios é visto, em sua maior parte, com otimismo", diz Betania. Tanto que 34% dos entrevistados dizem que o faturamento da companhia em 2021 fechou dentro do previsto, enquanto 42% sinalizam que o resultado foi acima ou muito acima do esperado.
"O ano de 2021 foi um em que a cultura da empresa foi posta à prova e passou no teste", afirma Betania, referindo-se ao desafio de manter a equipe engajada diante da segunda onda da Covid, ao mesmo tempo que era preciso ampliar, diversificar ou digitalizar as operações.
De acordo com a pesquisa, em uma escala de 0 a 10, 70% dos executivos deram nota 8 ou acima para a cultura da empresa como ferramenta fundamental para enfrentar o momento de crise. "Em 2022, será a vez de as empresas testarem o trabalho híbrido, uma realidade diferente da do remoto", diz Betania.
No levantamento, 48% dos entrevistados disseram que pretendem aumentar o sistema de trabalho híbrido em 2022, enquanto 30% devem manter, e 21%, diminuir. "Este modelo exige uma calibragem entre as perspectivas individuais e empresariais", diz a especialista.
A imensa maioria das empresas (84%) vai investir mais na digitalização da companhia, 74% vão aumentar esforços no desenvolvimento e treinamento das equipes, 63% querem ampliar os investimentos na expansão das operações com novos canais ou unidades, e 51% vão investir mais em infraestrutura.
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