Família Caseli vende Avenida para grupo sul-africano por R$ 1 bi
Após dois anos desde o primeiro contato entre as partes, o Grupo Avenida, da família Caseli, fechou ontem a venda de 87% da empresa para Pepkor, rede sul-africana de moda, itens para casa e eletrônicos, controlada pela Steinhoff International. A compra incluiu as 110 lojas da Avenida e 20 unidades da Giovanna Calçados e a soma paga equivale a pouco menos de 4% do valor de mercado da Pepkor na bolsa de Joanesburgo - cerca de R$ 1,1 bilhão, calculou o Valor.
O acordo marca a saída total dos fundos da gestora Kinea do investimento, iniciado em 2014, e a entrada de novo capital estrangeiro nesse mercado de moda no país. É o primeiro investimento de maior peso no segmento de moda mais acessível por uma rede estrangeira desde a entrada no país da JC Penney, em 1998. Fundos da Kinea tinham 55% do capital total, e os Caseli, os 45% restantes - eles agora passam a ter 13% do grupo.
Parte do capital entra para o caixa da empresa, com parcela voltada a projetos de expansão, especialmente em áreas já exploradas. A empresa não informa esse montante. Ainda deve ser alinhado um plano de crescimento mais detalhado, mas premissas básicas já definidas pela família, como abertura de 170 lojas nos próximos anos, podem ser mantidas. “Queríamos ser uma rede de realmente nacional, agora é a chance para isso”, disse ao Valor Christian Caseli, presidente do conselho de administração do Grupo Avenida.
Pelo acordo, a família deve ficar na gestão por sete anos. “Nossa ideia inicialmente é reforçar a atuação onde já estamos, como Centro-Oeste, Nordeste e áreas anexas, e num segundo momento ir com mais força para Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo, onde temos lojas, mas ainda somos pequenos”, diz o conselheiro.
Caseli diz que há expectativa de geração de sinergias especialmente na área de compras e de tecnologia. Como a Pepkor não tem operação local ou na região latina, essa era uma dúvida de analistas. “Eles têm escritório na China e quase 90% de tudo o que vendem vem da China. No nosso caso, isso é só 15% e temos espaço para crescer”, diz.
Não é muito animador o histórico recente das varejistas de moda internacional no Brasil - e até de maneira mais geral, o histórico das redes estrangeiras por aqui de duas décadas para cá. Para analistas, trata-se de um segmento competitivo em termos regionais e com concorrência duríssima com os sites chineses de “marketplace”.
“[A Pepkor] um grupo distante do Brasil, o país é complexo. A Avenida opera uma faixa de mercado mais no interior. A empresa está redonda, mas é um negócio muito competitivo, de alto risco e dificílimo. Quantos ensaiaram e desistiram desse negócio no Brasil? É uma surpresa”, disse Alberto Serrentino, sócio da Varese Retail.
Caseli entende que esses aspectos não são relevantes, considerado o histórico dos novos sócios. “Eles atuam em mercados que passaram por guerras, e nós continuaremos na gestão [por sete anos]. Acho que não deve ter problemas para eles aqui”, disse Caseli.
“Eles têm um amplo conhecimento de processos de integração e ganhos de sinergia, porque lideram uma expansão na Polônia e na Austrália”, afirmou.
Controlada pela Steinhoff (com atuação na América, África, Europa e Oceania), a Pepkor é maior empresa de varejo de vestuário da África do Sul. São mais de 5,5 mil lojas em 10 países e valor de mercado de US$ 5,3 bilhões. Em 2003, ela entrou no mercado polonês, por meio da aquisição da Pepco.
De setembro de 2020 a setembro de 2021, a empresa vendeu quase US$ 5,1 bilhões, alta de 9%.
Sem avanço no plano de oferta pública inicial de ações, após a piora no mercado no ano passado, e com a Kinea interessada na saída do negócio, o Grupo Avenida e a Pepkor começaram a alinhar um acordo em 2020. Os primeiros contatos foram em fevereiro daquele ano, quando a rede estava em visita para conhecer o varejo brasileiro, já estudando aquisições. No fim de 2020, a direção da voltou para uma visita às lojas. Em abril de 2021, veio já uma proposta, mas a nova onda da pandemia atrasou as conversas.
Fundada pelo empresário Ailton Caseli, a Avenida é uma das maiores varejistas de moda do Centro-Oeste e Norte do país. Em 2020, teve uma receita de R$ 641,3 milhões, queda de 5,3% na comparação anual, impactada pela pandemia. Apurou prejuízo líquido de R$ 51,1 milhões, versus lucro de R$ 25,3 milhões de 2019. Em 2021, teve receita de R$ 773 milhões.
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