Clientes de construtora cobram término de condomínio atrasado há 14 meses
O sonho virou pesadelo. Com obras se arrastando e demora superior há 14 meses para a conclusão do projeto, os proprietários dos imóveis do Condomínio Atenas, em Cuiabá, já não sabem mais o que fazer para a construtora finalizar a construção e liberar as casas para serem habitadas. Na última medição realizada, o condomínio tinha avançado apenas 1%, totalizando pouco mais de 90% da obra concluída.
Indignados com a situação de descaso, os futuros moradores do empreendimento promoveram um protesto em frente às construções inacabadas e também foram até a sede da construtora Ávida cobrar esclarecimentos no último sábado (02). A manifestação da insatisfação coletiva também acontece nas redes sociais. Quando questionam publicamente a construtora sobre os prazos de entrega, a construtora dá respostas evasivas, sem nenhuma data e posterga ainda mais o sonho da casa própria.
Esta não é a primeira vez que a mobilização coletiva é utilizada para cobrar um posicionamento mais concreto da construtora Ávida. Em setembro do ano passado, um grupo de moradores também teve que manifestar a sua insatisfação com o andamento da obra e só depois disso foi atendido pelo dono da construtora. Nos meses seguintes a obra avançou 3% por mês e agora, desde o mês de janeiro, o ritmo vem caindo para 2% e 1%.
Rafael Lima, proprietário de um imóvel e representante comercial, fez parte de uma comissão formada pelos moradores para acompanhamento da obra em 2021, porém, esta comissão foi desfeita após a transferência de responsabilidade da construtora para a comissão. "A empresa passou a colocar no SAC o contato das pessoas da comissão para que os moradores nos procurassem para tirar suas dúvidas. Isso é um absurdo, nós não tínhamos nenhum vínculo trabalhista com a Ávida e ela transferiu para nós a responsabilidade de comunicação", afirma.
Alguns contratos foram redigidos com entrega para dezembro de 2020, com dilação de prazo para mais 180 dias, outros com data em 2021 e há contratos firmados entre as partes sem nenhum prazo de entrega. Outra situação comum entre os proprietários dos imóveis é a manutenção do pagamento da taxa de fase de obra que em muitos casos já está com valor superior a R$ 1.000,00.
Enquanto continuam pagando por uma obra que não tem evolução significativa, dezenas de famílias ainda têm que desembolsar o dinheiro para o aluguel ou morar de favor na casa de familiares e conhecidos.
Além do prejuízo direto, uma cliente cita o prejuízo indireto causado pela construtora "Eu financiei a instalação de energia solar na minha casa, mas até hoje eu não tenho um telhado para instalar os equipamentos. Se até novembro a casa não estiver pronta, eu vou perder todo o valor investido, isso é muito frustrante!", diz a proprietária.
Uma das possibilidades levantadas pelos moradores é de direcionamento dos recursos, já que por mês a construtora arrecada cerca de R$ 200 mil dos moradores e uma parte muito pequena deste montante é aplicado na obra. Segundo os moradores, a construtora dá prioridade a outros empreendimentos em detrimento da conclusão do Condomínio Athenas.
Como se não bastasse todo este transtorno, em visita à obra, os moradores já identificaram erros nos projetos e, pelo menos, uma casa teve que ser reformada por estar fora do prumo e com paredes tortas.
RESIDENCIAL BOM JESUS - Em frente ao Condomínio Athenas, separado por apenas uma rua, começa o Residencial Bom Jesus. Assim como o Athenas, ele é uma empreitada da Construtora Ávida e também sofreu atrasos na obra. Mas agora, grande parte dos imóveis está com seus proprietários. Porém, para o casal Selma Novaes e Lidiosvaldo Ferreira a angústia e o medo estão apenas começando. Com menos de dois meses de ocupação da residência, o solo começou a afundar e é perceptível que a casa sofre risco de desabamento.
"Nós compramos a casa em 2018 e recebemos as chaves em novembro de 2021, porém, nós queríamos primeiro murar a casa por questão de segurança. No dia 24 de fevereiro de 2022 nós mudamos e já no dia 25 o radier da construção começou a ceder! A cada dia que passa a casa vai afundando mais e mais", diz a diarista Selma.
Como medida de segurança, o casal não trouxe os filhos nem grande parte dos móveis e eletrodomésticos para a casa nova, mas ainda assim eles pernoitam no local. Para eles, ver o sonho da casa própria, fruto de tanto trabalho e esforço, se dissipar diante de seus próprios olhos é desesperador.
"Nós já entramos em contato com a construtora e ela nos pediu um prazo de 30 dias para solucionar o problema. Um perito já veio até a nossa casa, fez a perícia e a construtora não concordou com o laudo técnico emitido. Eu não posso trazer os meus filhos para ficarem com a gente na nossa casa, todos os nossos móveis estão na casa de parentes", reclama o eletricista Lidiosvaldo.
Até agora, nenhum morador do condomínio Athenas e do Residencial Bom Jesus teve parecer favorável da justiça para sanar os danos morais e materiais causados pela construtora Ávida.
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