Tribuna livre discute militarização das escolas
A militarização das escolas públicas esteve em debate durante a realização da Tribuna Livre da Câmara Municipal de Cuiabá desta quinta-feira (22), com a participação da aluna Clara Luz Caetano Rodrigues, de 16 anos, representante do grêmio estudantil da escola estadual Adalgisa de Barros, em Várzea Grande.
Os alunos denunciam que o processo de militarização da escola está sendo conduzido pela Secretaria de Estado de Educação de forma antidemocrática, sem a concordância da comunidade escolar e dos familiares.
Segundo Clara, a medida pegou todos de surpresa e as tratativas ocorreram de maneira informal, sem que tenha sido apresentado um plano de trabalho elaborado com a participação do corpo docente e discente.
A aluna questionou os motivos da militarização da unidade escolar, já que ela apresenta o melhor índice no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de Várzea Grande, é reconhecida como uma instituição tradicional, sendo dirigida por uma de suas fundadoras, e possui um corpo docente efetivo qualificado.
Também argumentou que, com a militarização, será encerrado um projeto da escola que atende a 35 migrantes venezuelanos, assim como as salas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) e as de período noturno.
Ela lembrou ainda que a militarização não foi solicitada pela escola e citou o tumulto ocorrido na assembleia realizada no início de dezembro entre Seduc-MT e a escola, onde houve pressão sobre os manifestantes contrários à proposta.
Segundo a aluna, nesse dia, um homem não identificado tentou, por meio de perguntas aos alunos, demonstrar que não havia disciplina na unidade escolar, e o deputado estadual Gilberto Cattani, defensor da pauta da militarização, compareceu para pressionar pela proposta, tumultuando o processo de votação.
“Quero mostrar a minha indignação e a de meus colegas. Dizem que com a militarização, nossa escola será melhor, terá mais disciplina, como se tivéssemos índices de vandalismo, violência, coisa que não temos. Nossa escola tem 60 anos de tradição, disciplina, democracia e muita diversidade. Essa diversidade deve assustar esse sistema tão antidemocrático em que vivemos”, disse a estudante.
“É triste ver que esse processo de desmanche foi acontecer justamente agora, no final do ano. Acho que eles quiseram nos passar uma rasteira, como se não tivéssemos autoridade para lutar pelos nossos direitos, mas é o contrário”, afirmou.
A participação da aluna foi uma iniciativa da vereadora Edna Sampaio (PT), segundo a qual a militarização é um fenômeno dos últimos anos e, em Mato Grosso, obedece ao modelo de administração do governo Mauro Mendes.
Ela lembrou as irregularidades na militarização da escola Maria Dimpina Lobo Duarte, e disse que conseguiu reverter a militarização da escola estadual Malik Didier, no bairro Pedra 90, graças à mobilização junto à comunidade.
A parlamentar defendeu que os vereadores se envolvam com questões que ultrapassam o município, pois dizem respeito ao conjunto da sociedade. Ela afirmou que pediu à Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Câmara um posicionamento sobre o tema.
“Gostaria que esta Casa se colocasse em defesa da democracia e da escola pública, pois ela é o local de aprendizagem, construção de conhecimento. A disciplina militar não serve para a escola pública e os agentes públicos precisam entender e aprender a ouvir a comunidade acerca de sua própria vida”, disse Edna Sampaio.
“Lamentavelmente, não encontramos aqui ambiente para esse debate, não porque as escolas aqui não sofram da mesma situação. As escolas estão sendo fechadas pelo governo do estado, militarizadas, escolas que têm avaliação excelente. Não há justificativa para essa política do governo do estado”.
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