OPERAÇÃO PERFÍDIA

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Acusados de propina em obras do Contorno Leste, vereadores retornam à Câmara de Cuiabá Sargento Joelson e Chico 2000, afastados pela Operação Perfídia, conseguem decisão favorável no TJMT e reassumem os mandatos; investigações continuam.

Os vereadores Sargento Joelson (PSB) e Chico 2000 (PL) estão autorizados a retornar aos trabalhos legislativos na Câmara Municipal de Cuiabá, após decisão da Quarta Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), proferida nesta segunda-feira (1º). Ambos estavam afastados desde abril, sob suspeita de envolvimento em um esquema de corrupção relacionado às obras do Contorno Leste, em Cuiabá.

A decisão estendeu os efeitos de um habeas corpus anteriormente concedido e foi aprovada pela maioria dos desembargadores da turma julgadora. A Câmara de Cuiabá deverá ser oficialmente notificada para convocar os parlamentares de volta ao plenário. O conteúdo completo do acórdão ainda não foi publicado.

Propina para liberar pagamentos milionários

Joelson e Chico foram alvos da Operação Perfídia, conduzida pelo Gaeco e pela Polícia Civil, que investiga o pagamento de propina superior a R$ 150 mil para que ambos aprovassem, na Câmara, uma pauta legislativa que autorizaria o repasse de recursos públicos à construtora HB20, responsável pelas obras do Contorno Leste um dos contratos mais vultosos da atual gestão municipal.

Segundo os autos, parte da propina foi transferida via depósito bancário para uma conta do empresário José Márcio da Silva Cunha, apontado como intermediário. Ele teria repassado os valores a Joelson, enquanto outra parcela em dinheiro vivo teria sido entregue diretamente no gabinete parlamentar.

A investigação também cita João Jorge Souza Catalan Mesquita, funcionário da HB20, como operador financeiro do esquema. Em escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, Joelson menciona Chico 2000 como coautor do pedido de propina.

Bens sequestrados e afastamento judicial

Durante as diligências, a Justiça determinou o sequestro de bens dos envolvidos. Foram bloqueados imóveis e veículos de alto valor, incluindo uma Chevrolet Tracker de Chico 2000 e uma S10, uma moto, um Nissan March e uma Saveiro de Joelson.

O afastamento dos dois vereadores, por um período inicial de seis meses, foi determinado pela juíza Edna Ederli, que justificou a medida pela gravidade dos indícios e pela necessidade de preservar a instrução processual. Ela apontou a existência de "contraprestação ilícita" entre agentes públicos e interesses privados, destacando a complexidade do esquema.

Durante a ausência dos titulares, os suplentes Rafael Yonekubo (PL) e Gustavo Padilha (PSB) assumiram os mandatos.

Denúncia teve origem política

O caso chegou às autoridades por meio de uma denúncia formalizada em 2024 pelo então deputado federal Abilio Brunini (PL) — notório opositor do prefeito Emanuel Pinheiro (MDB). Curiosamente, Chico 2000 já foi aliado do prefeito, o que adiciona um componente político ao caso.

A reviravolta no processo ocorre em um momento sensível para o Legislativo cuiabano, que vem enfrentando sucessivos escândalos de corrupção e tem a imagem pública abalada.

Investigação ainda em curso

Apesar da autorização para o retorno dos vereadores aos seus cargos, a investigação criminal segue em andamento, e os parlamentares ainda são formalmente investigados por corrupção passiva, associação criminosa e lavagem de dinheiro.

Fontes ligadas ao Ministério Público indicam que novas quebras de sigilo bancário e fiscal estão em curso, e não está descartada a oferta de denúncia formal contra os envolvidos nas próximas semanas.

“A decisão do TJ não encerra o caso, apenas revoga uma medida cautelar. O mérito da investigação segue sendo apurado com base nas provas já colhidas e nas diligências em curso”, afirmou um dos promotores do caso, sob condição de anonimato. 



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