Exposição na ALMT dá visibilidade ao autismo em mulheres e denuncia invisibilidade no diagnóstico
Redação
Mostra "Normal demais para ser autista, autista demais para ser normal" destaca o diagnóstico tardio, o sofrimento silencioso e a luta por reconhecimento das mulheres no espectro autista
A Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT) recebe, entre os dias 15 e 19 de setembro, a exposição “Normal demais para ser autista, autista demais para ser normal”, idealizada pela artista, poeta e ativista Daya Ananias, em parceria com o Instituto Memória. A mostra, instalada no saguão principal da ALMT, traz poesias, depoimentos e reflexões sobre o autismo em mulheres, com foco no diagnóstico tardio e nas dificuldades enfrentadas por quem vive no espectro sem o devido acolhimento da sociedade.
Segundo Daya, que foi diagnosticada aos 32 anos, a ideia surgiu a partir do Edital Paulo Gustavo, com o desejo de transformar vivências reais em arte e dar voz a histórias invisibilizadas. “Quis falar sobre o diagnóstico tardio de mulheres autistas e sobre como nossas dores, ao mesmo tempo que nos machucam, também nos unem. A exposição revela o que muitas escondem por medo ou por falta de espaço para existir como são”, afirmou.
A exposição já havia sido apresentada em Jaciara, cidade natal da artista. Com grande repercussão local, ganhou nova montagem em Cuiabá. “Muita gente queria ver, mas não podia ir até Jaciara. Agora conseguimos trazer para a capital, e estar aqui na Assembleia é muito simbólico para nós”, completou.
Autismo feminino: o desafio do diagnóstico e o impacto do mascaramento
O conteúdo da mostra vai além da arte e promove conscientização sobre um fenômeno recorrente entre mulheres no espectro: o diagnóstico tardio. De acordo com Daya, muitas mulheres só descobrem que são autistas na vida adulta, muitas vezes por conta de avaliações realizadas em filhos ou irmãos. Um dos principais fatores para esse atraso é o mascaramento social — quando a pessoa, especialmente mulheres, adapta seu comportamento para se encaixar nas normas esperadas, o que dificulta o reconhecimento clínico do autismo.
> “Nós não somos vistas como autistas pelo estereótipo masculino, nem consideradas normais pela sociedade. Ficamos nesse limbo. Essa negligência causa sofrimento emocional, automutilação e até tentativas de suicídio. O diagnóstico não me limitou, ele me libertou. Deu nome ao meu cansaço, sentido à minha história e respeito ao meu jeito de ser”, destacou Daya.
A exposição também se conecta à campanha Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio, ao chamar atenção para a realidade vivida por mulheres autistas, frequentemente afetadas por sobrecarga emocional, exclusão social e ausência de suporte adequado.
Assembleia como espaço de inclusão
Para o superintendente do Instituto Memória, Gilmárcio Pontes Silva, a presença da exposição no parlamento representa um avanço no reconhecimento de pautas importantes para a população neurodivergente.
> “Esta mostra é mais que uma ação cultural. É um gesto de acolhimento e visibilidade para um tema muitas vezes esquecido. Com o apoio da Mesa Diretora da Assembleia, abrimos um espaço de escuta e representação para essas histórias. Os painéis estão lindos, com depoimentos emocionantes”, afirmou.
Daya também ressaltou a importância de políticas públicas e ações institucionais que promovam inclusão de pessoas com deficiências invisíveis. “Ter esse espaço de fala aqui na ALMT é muito importante. A adoção do colar de girassol, por exemplo, foi um passo significativo.