CPI denuncia modelo que paga até R$ 284 milhões para manter ônibus vazios em Cuiabá.

A Prefeitura de Cuiabá continua bancando um sistema de transporte público que, na prática, incentiva as concessionárias a manterem ônibus circulando vazios na capital mato-grossense. A conclusão consta no relatório final da CPI do Transporte, produzido pela Câmara Municipal.
Veja aqui o relatório completo.

A investigação identificou que as quatro empresas que operam o transporte coletivo — VPAR Transportes, Rápido Cuiabá Transporte Urbano, Caribus Transportes e Serviços e Integração Transportes — devem receber até o fim de 2025 um total de R$ 284 milhões em subsídios. O valor cobre a diferença entre a tarifa paga pelos usuários (R$ 4,95) e a chamada tarifa técnica, calculada em R$ 11,99.
Nos cinco primeiros meses de 2025, os subsídios já somaram R$ 118,5 milhões, projetando o total anual de R$ 284,4 milhões.

Segundo a CPI, há fortes indícios de que esses valores estejam inflados. O primeiro motivo é a ausência de auditoria no sistema de bilhetagem eletrônica da Associação Mato-grossense dos Transportadores Urbanos (MTU), apesar de recomendação do Tribunal de Contas. Assim, a Prefeitura não tem segurança sobre a veracidade dos dados apresentados pelas empresas.

> “Milhões de reais em subsídios e tarifas são pagos com base em informações que não passam por verificação independente, o que abre potencial para manipulação e fraude”, aponta o relatório.

O segundo problema identificado é o elevado número de ônibus circulando vazios, sobretudo fora dos horários de pico. O Índice de Passageiros por Quilômetro (IPK) de Cuiabá é 1,02, quando o ideal seria 2,8 — ou seja, cada ônibus transporta, em média, apenas um passageiro por quilômetro percorrido.

A CPI destaca que um aditivo firmado em abril de 2022 permitiu que as empresas fossem remuneradas por quilômetro rodado, modelo que, segundo o relatório, estimula a manutenção de linhas com baixa demanda.

> “Na prática, o município paga para manter ônibus vazios circulando, sem qualquer vínculo com a demanda real”, afirma o documento.
A análise aponta ainda “occiosidade operacional de 63%”, caracterizando grave falta de eficiência no sistema.

 

A CPI também alerta para o impacto desse modelo no cálculo da tarifa, elaborado pela agência Cuiabá Regula. Como o número de passageiros é reduzido, o custo total acaba dividido por uma base menor, inflando artificialmente a tarifa técnica.

> “O custo total de operação, quando dividido por um número reduzido de usuários, resulta em uma tarifa artificialmente inflada”, afirma o relatório.
Para evitar que esse valor seja repassado ao usuário, o poder público cobre a diferença com subsídios cada vez mais altos, o que, segundo o documento, representa desperdício significativo de recursos públicos que poderiam ser destinados a outras áreas essenciais. 



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