Selic a 15%: O Paradoxo Econômico Brasileiro entre Arrecadação Recorde e Juros Elevados 

O Brasil vive um cenário econômico paradoxal: de um lado, a arrecadação federal atinge níveis recordes; de outro, a taxa básica de juros (Selic) permanece em um patamar elevado de 15% ao ano, o maior em quase duas décadas. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu, pela quarta vez consecutiva, manter a taxa neste nível em sua última reunião de dezembro de 2025. Esse descompasso gera tensões e preocupa o setor produtivo, que vê a expansão dos gastos do governo como o principal impeditivo para a queda dos juros, resultando em uma "conta que não fecha". A Arrecadação em Alta: Fatores e Recordes A arrecadação de tributos federais tem superado expectativas e batido recordes históricos. Em 2024, a arrecadação totalizou R(2,65trilhões,omaiorvalordasériehistórica[2.2.6].Emoutubrode2025,umnovorecordemensalfoiregistrado,somandoR) 261,9 milhões. Vários fatores contribuem para esse desempenho robusto, incluindo: Crescimento econômico: A expansão da economia impulsiona a arrecadação de tributos sobre bens e serviços.Aumento de impostos: Mudanças na legislação e o aumento de alíquotas, como o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), também contribuíram para o incremento da receita. O Papel da "Gastança" e a Pressão nos Juros Apesar da entrada recorde de recursos nos cofres públicos, o que se observa é uma expansão contínua dos gastos governamentais. Esse aumento nas despesas é visto pelo Banco Central e por economistas como um fator de risco que pressiona a inflação e impede a redução da Selic. O mecanismo é o seguinte: Estímulo à Demanda: O aumento dos gastos públicos injeta mais dinheiro na economia, aumentando a demanda agregada por bens e serviços.Risco Inflacionário: Se a demanda cresce mais rápido que a capacidade de oferta da economia, a inflação tende a subir.Endividamento e Incerteza Fiscal: Gastos crescentes sem um controle fiscal claro aumentam a dívida pública e geram incerteza sobre a solvência do governo a longo prazo.Juros como Freio: Para combater a inflação e compensar o risco fiscal, o Banco Central utiliza a taxa Selic como principal ferramenta. Manter os juros altos encarece o crédito e desestimula o consumo e o investimento, esfriando a economia e controlando os preços. O Descompasso Explicado O descompasso entre arrecadação recorde e Selic alta reside na percepção de desequilíbrio fiscal. Mesmo arrecadando muito, o governo gasta ainda mais ou não consegue demonstrar um compromisso claro com a sustentabilidade de suas contas. A mensagem do Banco Central, ao manter os juros em patamar "significativamente contracionista por um período bastante prolongado", reflete essa preocupação com o cenário fiscal e a inflação que teima em não convergir para a meta. Em resumo, a "gastança" (aumento dos gastos públicos) neutraliza, do ponto de vista da política monetária, os efeitos positivos da alta arrecadação. O resultado é um ciclo de juros elevados que impacta diretamente o bolso do cidadão, tornando o crédito mais caro e favorecendo aplicações de renda fixa, enquanto o país navega em um mar de incertezas fiscais. 



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