Crise sem fim entre Prefeitura x Câmara em Várzea Grande - Retrospectiva

A relação entre a prefeita de Várzea Grande, Flávia Moretti (PL), e a Câmara Municipal tem sido marcada por embates políticos, trocas de acusações e dificuldades de governabilidade desde o início da atual gestão. O conflito, que começou ainda no período de transição, ganhou novos capítulos nesta sexta-feira (26), após declarações contundentes da prefeita em entrevista à TV Vila Real.

Retrospectiva da crise

Desde os primeiros meses de governo, Flávia Moretti enfrenta resistência do Legislativo, especialmente do presidente da Câmara, vereador Wanderley Cerqueira (MDB). A prefeita afirma que o principal ponto de ruptura foi sua recusa em “lotear” secretarias, com destaque para a Secretaria Municipal de Saúde, que, segundo ela, teria sido alvo de tentativas de interferência política.

Moretti sustenta que Cerqueira queria exercer influência direta sobre a pasta, indicando nomes de sua confiança. A negativa da prefeita teria dado início a um “cabo de guerra” institucional.

“Não aceitei lotear minhas secretarias. O presidente da Câmara queria mandar na prefeitura e, como não entrei no sistema como eles queriam, ele se tornou o articulador para me tirar da cadeira”, afirmou.

No Parlamento, a reação veio por meio de investigações e fiscalizações. A Câmara instituiu comissões para apurar atos da gestão, como o uso de slogans em uniformes escolares. Além disso, o presidente da Casa passou a realizar fiscalizações presenciais em UPAs e unidades de saúde, o que a prefeita rebateu dizendo que os vereadores “só agora aprenderam a fiscalizar”.

Outro fator que acirrou o clima político foi a alegação da prefeita de que projetos considerados essenciais estariam sendo travados no Legislativo como forma de dificultar sua gestão. Em contrapartida, Cerqueira tem usado a tribuna para afirmar que Flávia Moretti “não entende de gestão” e não conseguirá cumprir promessas de campanha.

Acusações de “tapetão” e articulação política

Um dos pontos mais sensíveis do embate foi a acusação feita pela prefeita de que haveria uma tentativa de cassação ou afastamento de seu mandato por meio de articulações políticas — o que ela classificou como tentativa de “ganhar no tapetão”.

Segundo Moretti, o presidente da Câmara lideraria um grupo de vereadores que estaria “procurando pelo em ovo” para inviabilizar sua administração, em retaliação à falta de espaço político para o grupo ligado ao MDB e ao ex-prefeito Kalil Baracat no primeiro escalão.

“Ele é o líder e usa todos os meios para isso. Mas ele não joga sozinho, sempre tem um ‘time’ junto”, declarou.

Tentativa de pacificação e novos desafios

Na tentativa de reduzir a tensão e melhorar o diálogo institucional, Flávia Moretti nomeou recentemente Silvio Fidelis como secretário de Governo. A própria prefeita admitiu que a relação com os vereadores tem gerado “dores de cabeça” frequentes à gestão.

Além do embate externo, a prefeita também enfrenta críticas internas dentro do próprio PL, relacionadas às escolhas do secretariado e à previsão de reajustes nas tarifas de água a partir de 2026, tema que tem gerado desgaste político.

Situação atual

Até o momento, o vereador Wanderley Cerqueira não se manifestou oficialmente sobre as declarações feitas pela prefeita nesta sexta-feira. A Câmara Municipal segue em recesso, o que adia, por ora, novos desdobramentos institucionais.

Enquanto isso, a chamada “guerra de narrativas” segue marcando o cenário político de Várzea Grande, com reflexos diretos na governabilidade e na relação entre os poderes Executivo e Legislativo.