A Muralha Dourada: Como Rússia e China Estão Blindando suas Economias Contra o Dólar em 2025

O cenário financeiro global encerra 2025 consolidando uma das maiores mudanças estruturais das últimas décadas: a "desdolarização" acelerada liderada por Rússia e China. Com o preço do ouro atingindo a marca histórica de US$ 4.549 por onça troy em dezembro, as duas potências eurasianas converteram o metal precioso na peça central de sua soberania econômica, desafiando a hegemonia de décadas da moeda americana.

O Fim da Era do Dólar no Comércio Bilateral
O ano de 2025 marcou um ponto de ruptura definitivo. Segundo dados oficiais divulgados em novembro, a Rússia e a China praticamente eliminaram o dólar e o euro de suas transações mútuas, com mais de 95% a 99% das trocas comerciais sendo liquidadas agora em rublos e yuans.
"O dólar e o euro foram praticamente paralisados em nossas transações mútuas", afirmou o Ministro das Finanças da Rússia, Anton Siluanov, durante o 11º Diálogo Financeiro Rússia-China em Pequim. Este movimento é visto por analistas como uma resposta direta às sanções ocidentais e ao uso do dólar como ferramenta política, o que forçou Moscou e Pequim a criarem um sistema de pagamentos paralelo.

Reservas de Ouro em Níveis Recordes
Enquanto se afastam do dólar, ambos os países acumulam ouro em um ritmo sem precedentes:
Rússia: Em outubro de 2025, o valor das reservas de ouro russas atingiu um recorde histórico de quase US$ 300 bilhões. O país ocupa a 5ª posição global em reservas físicas, com cerca de 2.329 toneladas.
China: O Banco Popular da China manteve um ciclo de compras por 13 meses consecutivos, encerrando novembro com aproximadamente 2.303 toneladas.
Um marco simbólico ocorreu em novembro de 2025, quando a China comprou US$ 961 milhões em ouro diretamente da Rússia em uma única operação, o maior acordo bilateral de ouro da história entre os dois países.

Por que o Ouro?
A estratégia é clara: o ouro é um ativo que "não pode ser impresso" e não possui risco de contraparte estrangeira (não pode ser "congelado" eletronicamente por Washington).
Segurança Geopolítica: Após o congelamento de reservas russas pelo Ocidente em 2022, o ouro físico tornou-se o único porto seguro confiável para nações sob tensão com os EUA.
Proteção contra a Inflação: Com a valorização do metal superando 70% em 2025, ele serviu como uma proteção robusta contra a desvalorização de moedas fiduciárias.
Nova Ordem BRICS: O bloco BRICS, agora controlando cerca de 50% da produção global de ouro, discute abertamente a criação de uma infraestrutura financeira alternativa que poderia, no futuro, ser lastreada em commodities.

O Impacto no Dólar
Apesar de o dólar ainda ser a principal moeda de reserva mundial, sua participação nas reservas globais caiu para níveis abaixo de 47% no início de 2025. A disparada do ouro é, para muitos especialistas, o termômetro do declínio da confiança no sistema financeiro tradicional.
Enquanto os bancos centrais ocidentais lutam contra a instabilidade fiscal, o eixo Pequim-Moscou parece ter escolhido seu novo padrão: uma "muralha dourada" que visa garantir que, independentemente das pressões externas, suas economias permaneçam soberanas.