Parceria com estilista renomada transforma artesanato em obra de arte para o mundo
As redes do Distrito de Limpo Grande, em Várzea Grande (MT), estão prestes a ganhar o mundo e receber o reconhecido merecimento pelo seu valor histórico. Na manhã de hoje (1), a Associação das Redeiras de Várzea Grande e a estilista Martha Medeiros firmaram parceria para divulgação, fomento e valorização das peças, que em pleno século 21, ainda são feitas a mão, em tear manual.
A parceria foi construída a pedido da primeira-dama de Mato Grosso, Virginia Mendes e através da ação da primeira-dama de Várzea Grande, Kika Dorilêo Baracat, que é promotora de Justiça.
Inclusive a Administração Municipal anunciou também as obras do Centro Comunitário do Distrito de Limpo Grande que servirá para exposição, cursos e para abrir uma agência da MT Fomento para liberar crédito para as redeiras.
A rede e o modo de fazer a rede várzea-grandense são reconhecidos, por Lei, como patrimônio cultural material e imaterial do Município de Várzea Grande. A rede não tem verso, tem seu desenho visto dos dois lados, e é feita por um tear manual vertical que tem ponto único, produzindo peças exclusivas.
Mesmo carregando o peso do simbolismo de representar a cultura de Várzea Grande, este artesanato corre o risco de se perder por falta de incentivos que despertem o interesse dos mais jovens. As redeiras que ainda estão em atividade são em geral filhas e netas de outras redeiras e começaram o ofício com cerca de 12 anos. O sonho de tornar esses produtos, que são peças únicas, em obras de artes, ficou muito mais perto de se tornar realidade. Martha se comprometeu a buscar meios de baratear a aquisição de matéria-prima, as linhas e barbantes, e ainda divulgar, por meio de sua marca, as peças confeccionadas em Limpo Grande. “O luxo do Brasil está em Várzea Grande e juntas o artesanato vai virar sim, uma obra de arte. Artesanato é feito com coração, as mãos são apenas instrumentos da concepção”.
Martha é reconhecida internacionalmente por ter transformado a renda nordestina em lindas e valorizadas peças de vestuário. “Eu vim até aqui para fazer, para contribuir com a mudança. Retorno em outubro ao Estado, mas neste tempo vou articular a aquisição de linhas de qualidade e a preços diferenciados, pois esse insumo precisa ser subsidiado e ter qualidade. Fora isso, as indústrias terão de produzir cores especiais que atendem às características dessa arte, que em suma, retrata a natureza, o Pantanal, a fauna e a flora, são cores vivas e as redeiras têm de ter acesso à matéria-prima”.
Para tecer uma rede tradicional, a Associação informou que são utilizados cerca de 40 novelos, ao custo unitário de R$ 20. “A esse valor, não há viabilidade”, frisou Martha.
A representante da Associação, Jilaine Maria da Silva, conta que são quase dois meses para a redeira concluir uma rede. “Quando o custo final passa de dois mil reais, a pessoa não entende, acha caro, mas não considera o tempo investido e nem o valor dos materiais. São produtos únicos, 100% algodão e feitos em tear manual”. Sobre a parceria que começou a ser alinhavada nesta manhã, Jislaine disse que não há “oportunidade melhor para se divulgar um trabalho centenário como esse”.
Outra preocupação que Martha trouxe ao encontro foi de que as peças sejam vendidas diretamente pelas artesãs redeiras, “para que o dinheiro chegue a quem de fato produz”.
Numa demonstração ao vivo de uso do tear manual, feito pela redeira Giva, Martha se emocionou. “Temos de cuidar, senão, não vai mais existir”.
A primeira-dama de Várzea Grande, a promotora de Justiça, Kika Dorileo, destacou que o objetivo era justamente esse, de trazer a estilista Martha in loco na comunidade para ela conhecer o produto e quem está por trás de cada peça. Essa ação em conjunto tinha a intenção de tornar a visita da Martha em algo concreto, que traga impactos às redeiras. Martha abraçou a cultura alagoana e a mostrou para o mundo. Tenho certeza de que ele vai acontecer com a cultura de Várzea Grande”. Ainda como destacou Kika, “nossas redes têm um ponto único, as redes são tecidas de maneira única e o mundo precisa conhecer essa arte”.
Virginia Mendes, primeira-dama do Estado, disse com muita satisfação que o encontro de hoje era um sonho que vinha sendo acalentado há quatro anos. “Um namoro longo”, definiu. Sobre o fomento da atividade, ela disse que o Estado poderá criar algum tipo de auxílio financeiro para a Associação, até mesmo por meio do Ser Família Emergencial.
A secretária municipal de Assistência Social, Ana Cristina Vieira, destacou que mais que viabilizar o fomento financeiro às redeiras, a parceria visa sedimentar a cultura local nos grandes centros e que assim, haja incentivos para perpetuação dessa tradição. “Com a Martha conhecendo a produção in loco é possível agregar valor às peças. Cada uma delas carrega todo o simbolismo e tradição de um povo, do povo várzea-grandense”.
LEI – Em outubro de 2018, a então prefeita, Lucimar Sacre de Campos, sancionou a Lei 4.406/2018 que reconhece a rede e o modo de fazer da rede várzea-grandense como patrimônio cultural material e imaterial do Município de Várzea Grande.
Conforme a Lei, “ficam reconhecidas as redeiras e o modo de fazer a rede várzea-grandense como patrimônio cultural material e imaterial do Município de Várzea Grande. Consideram-se redeiras aquelas que em seu berço familiar aprenderam o ofício de tecer e fabricar a rede várzea-grandense”.
Como pontuou a secretária Adjunta de Educação, Cultura, Esporte e Lazer, Maria Alice Barros, Várzea Grande é o único lugar no mundo com essas características da produção de redes e de tapeçaria em tear manual. “As redes são expressões de nossa identidade cultural e social são transmitidas de geração em geração”.
FOTO: PREFEITURA DE VÁRZEA GRANDE